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19 de abril de 2024 7:43 AM

Crime Virtual

Centro Humanitário de Apoio à Mulher dá dicas para não

Foto: Marley Lima
Especialista explica que estelionato sentimental vem crescendo e perfil de vítima é sempre o mesmo: mulheres fragilizadas, em fim de relacionamento 
Kátia Bezerra
Em 10 de fevereiro de 2022

Sedutor, carinhoso, compreensivo. Esse é o perfil dos criminosos que se aproximam de mulheres em aplicativos de relacionamento. Os estelionatários aproveitam a fragilidade emocional da vítima e logo oferecem uma proposta de investimento. A modalidade de extorsão usada por esses bandidos é conhecida como “golpe do amor” e organizada por quadrilhas especializadas que têm feito vítimas por todo o país.

Em Roraima, dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) afirmam que entre 2015 e 2021 foram registrados 1.553 boletins de ocorrência por fraudes em ambiente cibernético, conforme dados do Distrito Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos e o Denarc (Departamento de Narcóticos) da Polícia Civil. Os números não identificam especificamente os casos de estelionato sentimental, e sim tratam de forma genérica os crimes cometidos no mundo virtual.

Marcilene Ferreira dos Santos Melo, psicóloga do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame), afirma que os estelionatários têm encontrado formas cada vez mais complexas para enganar as pessoas e um tipo de extorsão que tem chamado muito a atenção das autoridades é o estelionato sentimental, um tipo de violência patrimonial. Geralmente, o golpista cria perfis falsos nas redes sociais e não mostra o rosto em quase nenhum encontro virtual.

“Eles simulam um relacionamento amoroso com a mulher e depois de se declararem apaixonados, dizem enviar presentes ou começam a pedir dinheiro para supostos investimentos financeiros”, esclareceu.

A especialista recomenda uma busca ativa por imagens no Google, para conhecer melhor a pessoa com quem ela vai se relacionar. Conferir o perfil e o círculo de amizades em outras redes sociais pode evitar problemas futuros.

“É importante saber da idoneidade e identidade dessa pessoa, se ela realmente existe. Como as mulheres estão bem fragilizadas e acreditam que encontram um ‘Dom Juan’, passando uma imagem de bom moço, a manipulação é muito mais fácil e ele consegue tirar tudo das vítimas. Elas acabam caindo no golpe”, ressaltou.

Solicitar videochamadas para conhecer melhor a pessoa e contar para próximos um possível encontro presencial também são dicas valiosas. “Mesmo assim, se o golpe for inevitável, é recomendável denunciar imediatamente numa delegacia para que seja registrado um boletim de ocorrência. Como ela foi totalmente prejudicada, precisa ser ressarcida desse prejuízo e o caso deve ser investigado”, recomendou.

Segundo a Sesp, os maiores índices estão relacionados ao crime de estelionato. A secretaria reforçou ainda que crime cibernético e crime cometido em ambiente cibernético são coisas diferentes. No primeiro caso há uso de tecnologia e técnicas de invasão de redes e sistemas, e só pode ser cometido via internet. Enquanto no segundo, o que se tem é um crime comum, que pode ser praticado tanto presencialmente quanto pela internet, que é apenas uma ferramenta a mais.

  Quanto às orientações de proteção, a população em Roraima precisa ficar atenta aos casos de estelionato em ambiente cibernético, pois golpes estão sendo aplicados com uso de “engenharia social”, isto é, a habilidade do infrator em enganar, criar estórias, torcer conversas e por fim angariar vantagem com as informações obtidas. Um dos golpes mais utilizados pelos infratores atualmente é o furto de perfil de rede social (Instagram, Facebook, Tik Tok).

  Os infratores buscam perfis de vítimas que possuam um bom número de seguidores e enviam mensagens oferecendo promoções ou alegando fazer parte de órgãos públicos. A vítima acaba repassando dados pessoais, o que facilita a entrada no perfil. De posse da conta, os infratores alteram senha, e-mail de recuperação e telefone. Em seguida, passam a fingir a venda de objetos móveis e imóveis por preços irrisórios a todos os contatos. Os seguidores acabam confiando no perfil da vítima e transferem valores a contas de terceiros, para comprar os bens.

  Em caso de furto de perfis nas redes sociais, a orientação é que a vítima registre o boletim de ocorrência e peça imediatamente a seus contatos para denunciarem o perfil. A vítima também deve se informar na plataforma sobre como tentar conseguir de volta sua conta. Outra orientação para manter a segurança dos perfis é não repassar informações pessoais via redes sociais, telefone ou SMS, e não repassar pix ou transferência bancária para terceiros. Em caso de repasse de valores, solicitar imediatamente ao banco a contestação da transferência para recuperar o dinheiro, além de denunciar aos órgãos de fiscalização.

Legislação 

Para fortalecer a segurança jurídica de vítimas desse tipo de crime, a Assembleia Legislativa promulgou no início do ano a Lei nº 1.616 para instituir em Roraima a Delegacia Virtual de competência da Secretaria Estadual de Segurança Pública. O projeto de lei que originou a normativa é de autoria do presidente da Casa, deputado Soldado Sampaio (PCdoB).

A Delegacia Virtual compreende os atalhos no Portal do Governo do Estado de Roraima e da Secretaria de Estado de Segurança Pública, com endereço eletrônico na rede mundial de computadores (internet), o sistema da referida plataforma digital e o processamento dos registros, os quais terão como objeto a comunicação, extravio de documentos e/ou aparelhos celulares, acidentes de trânsito, atos contra animais, pessoas desaparecidas e/ou delitos sem emprego de violência ou ameaça.

O texto da norma prevê a abertura de conta com cadastramento de senha de acesso ao endereço eletrônico da Delegada Virtual por ocasião das emissões de carteiras de identidade, bem como promoverá campanhas para esse fim, atreladas a outros serviços prestados pelo Estado. Cabe à secretaria tomar as medidas administrativas necessárias à efetivação das exigências, com prazo de 180 dias.

Golpe vira documentário em streaming 

“O Golpista do Tinder”, documentário exibido na Netflix, conta a história de Simon Leviev, homem que se passava por um magnata do ramo de diamantes e apresentava fotos de viagens de família manipuladas e editadas para levantar uma falsa impressão de bom filho e bom moço.  O filme mostra os vários golpes e as estratégias que ele usava para manipular mulheres e conseguir tirar delas milhões de dólares.

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