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19 de abril de 2024 2:25 PM

Coluna

Porandubas nº 761

Gaudêncio Torquato
Em 25 de maio de 2022

Abro a coluna de hoje com uma deliciosa historinha do Brejo das Freiras, lá nos fundões da Paraíba, pertinho do meu torrão, Luis Gomes/RN.

Lascou-se…

Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O governo da Paraíba tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma infraestrutura para banhos nas águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, um dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede:

– Meu caro, quero H2O.

Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O? Apolônio, solícito:

– Pois não, um instante!

Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), empedernido boêmio, acostumado aos salamaleques da vida.

– Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. O que é isso?

Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética e, desanimado, avisa:

– Apolônio, sei não. Consulte o Freitas.

Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato:

– H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água. Água, água.

Apressado, Apolônio socorreu o freguês com uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu:

– Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês. Lascou-se!

Panorama
PSDB em chamas

A renúncia de João Doria era algo previsível. Percebera há tempos que a prévia partidária, que ganhou, não tem a mesma força da convenção. A cúpula tucana o rifou. João ganhou prévias para a prefeitura e para o governo do Estado. E se submeteu à prévia para a candidatura à presidência. Ganhou, mas não levou. Coisas do Brasil. Fez uma excelente gestão no governo. O pai da vacina brasileira. O governante deixa um jardim na marginal do rio Pinheiros, que deixa de ser poluído.

Reconhecimento? Mais tarde

A história não lhe negará o reconhecimento. O torvelinho do momento e a dissonância criada na esteira do debate eleitoral abafam as análises lógicas, elevando as tensões emocionais. E a ambição de João, sua determinação em disputar cargos elevados o inserem na lista da desconfiança. O eleitorado se afasta, daí a rejeição ao nome. Mais adiante, poderá ser chamado pelo partido para um novo desafio. A conferir.

E Tebet decola?

A resposta requer um conjunto de situações:

– boa visibilidade na mídia;

– capacidade de aglutinar contingentes que integram o nem-nem (nem Lula nem Bolsonaro), principalmente setores médios e profissionais liberais;

– aperto na economia, com baixo índice de Bolsonaro;

– alta rejeição ao lulopetismo;

– mobilidade – capacidade de visitar todas as regiões, a partir dos três maiores redutos eleitorais – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia;

– apresentação de um projeto Brasil, que seja denso, consistente, com eixos que sejam simpáticos e tenham capacidade de laçar (loop) áreas e setores;

– impregnar-se do conceito de “novidade”, “renovação”, “assepsia”, “o espírito do tempo”;

– Recursos para enfrentar uma campanha nacional.

Uma bússola populista

Jair Bolsonaro está desesperadamente à procura de uma bússola popular, algo que o amarre na árvore de atração das massas. A inflação e o pacote do auxílio Brasil, sob o encarecimento dos transportes e dos alimentos, corroem seu poder agregador. Pode isso lhe custar a eleição. Indignação das massas lá por setembro é uma ameaça ao esforço para recuperar votos perdidos. Os preços dos combustíveis serão contidos? A mudança no comando da Petrobras poderá se tornar insuficiente para alargar o caminho bolsonarista.

Nordeste

O governo conta com um grande trunfo no Nordeste: a transposição das águas do São Francisco. A água do velho Chico está chegando à região. As obras compõem a estética da zona rural, com máquinas trabalhando dia e noite. A água, para o nordestino, é um sonho acalentado desde sua tenra idade. A chuva é uma festa, mas depender de chuvas tem sido um exercício de expectativas revertidas. Choro e vela. E fome.

A água

As maiores alegrias para este escriba, em sua infância, vinham dos céus. Chuvas torrenciais, relâmpagos e trovões faziam a alegria da garotada, que, nas ruas, corria para as bicas formadas nos tetos das residências e prédios do comércio. E brincava de fazer “pequenos açudes”, escavando no barro vermelho das ruas e juntando as águas das correntes. Que tempos bucólicos. Mas eram raras as chuvas. E a paisagem de caminhões-pipa e água buscada longe, nas lagoas, no lombo de jumentos, eram cenas constantes em nossas vidas.

Sonho realizado

Por isso, a água do São Francisco chegando às cidades, saindo das torneiras nas casas, é uma chave que poderá propiciar uma torrente de votos para Bolsonaro no Nordeste. O PT certamente vai dizer que na administração petista, ao longo de 12 anos, fez a maior parte das obras que estão realizando o sonho nordestino. Não sei. Debate aceso. Recheado de números e ideias. Cada qual vai querer tirar uma fatia deste apetitoso bolo. A discussão vai longe. O fato é que um “milagre” fará do Nordeste uma “terra prometida”. Pero Vaz de Caminha, cutucando Pedro Álvares Cabral, deve estar alegre: “ali, se plantando, tudo dá”. Bons risos.

SP e NE

São Paulo, sozinho, tem cerca de 36 milhões de votos; o Nordeste abarca cerca de 40 milhões. Quem levar a melhor votação nesses dois territórios deve se sentar na cadeira presidencial. Claro, garantindo também bons índices em outras regiões.

Renovação

A renovação nas casas congressuais – Câmara e Senado – deve ultrapassar os 50%. Pode chegar a 60%. A conferir.

Biden e a fogueira

Na Coréia do Sul, respondendo a uma pergunta, Joe Biden, presidente dos EUA e maior protagonista ocidental na esfera política, admitiu que usaria força para defender Taiwan. A China, pertinho, ouviu a resposta. E, assim, a Guerra Fria vai se tornando quente.

Os Beatles?

Que triste. No Reino Unido, 1 em cada três da geração Z – aqueles que nasceram entre a 2ª metade dos anos 90 até o ano de 2010 – não conhece os Beatles. Não sabem o que estão perdendo.

Prova de fogo

Já se especula que Lula não irá a debates. Bolsonaro também deve se recusar. Ora, um debate é a oportunidade de o eleitor tirar a limpo suas interrogações. E definir seus rumos. Sugiro dois debates com três candidatos. Um no início da campanha, outro em final de setembro.

Lesmas e camaleões

Quem sabe a semelhança entre a lesma e o camaleão? Aparentemente, quase nada, a não ser o fato de que ambos podem se arrastar pelo chão. Estudando atentamente as qualidades desses dois animais, identifica-se em ambos algo semelhante: a capacidade transformativa. O pequeno molusco, atingido por uma camada de sal, derrete e se transforma em água. O garboso lagarto, por sua vez, tem a capacidade de vestir as cores do ambiente em que se instala, saindo do verde das folhas para o marrom dos galhos secos com a maior facilidade.

Símbolos

Esses dois transformistas serão os principais símbolos da campanha eleitoral. Centenas de candidatos sairão líquidos das urnas, atingidos pelo sal grosso jogado pelo eleitor, enquanto outros, camaleões sabidos, ganharão solidez porque passarão a ter a cor do galho do momento, correndo atrás de um cidadão indignado. Mudarão o modo de agir, de se comportar, de dizer que nunca disseram isso e aquilo e até tentando se desvincular de atos do passado e de perfis rejeitados. Lembram-se de alguém?

Alexandre

Todo líder possui uma qualidade notável: a de antever possibilidades, quando os outros só veem restrições. Dois casos clássicos demonstram a capacidade estratégica de um líder. O primeiro envolve Alexandre Magno. Quem conseguisse desatar o nó que unia o jugo à lança do carro de Górdio, rei da Frígia, dominaria a Ásia. Muitos tentaram. Foram a Alexandre. Ele tinha duas opções: desatar o nó ou cortá-lo com a espada. Optou pela via mais rápida e certeira com um golpe forte. Sabia que perderia tempo tentando desatá-lo.

Colombo

O segundo caso é o ovo de Colombo. Levaram um ovo para o almirante e pediram que ele o equilibrasse. Com um pouco de força, Colombo colocou o ovo em posição vertical sobre a mesa. A questão que se coloca aos candidatos: descobrir se possuem a determinação férrea de Alexandre ou a matreirice de Colombo. Já sabemos que alguns perderão a Ásia, chegando a outubro próximo com o ovo rolando sobre a mesa.

Quem é Giordano?

Esperem minha reflexão de fim de semana.

 

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