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19 de abril de 2024 7:29 AM

Coluna

Porandubas nº 764

Gaudêncio Torquato
Em 15 de junho de 2022

Começo com o Papa Francisco numa cadeira de rodas.

O papa e a artrite

O bêbado entrou no ônibus aos tombos. Malvestido, sujo, tossindo, tropeçando, tremendo, com um jornal na mão, sentou-se ao lado de um padre. A cada arranco do ônibus, tombava para o lado do padre, que, irritado, o empurrava sem piedade ou indulgência, e com nojo. O bêbado abriu o jornal, tentou ler, mas não conseguia porque tremia muito, bateu no braço do padre:

– Padre, o que é artrite?

– É uma doença muito ruim, muito triste, muito feia, muito nojenta, que dá nas pessoas que bebem muito.

– E mata, padre?

– Mata, sim, e mata rápido. Ou o doente para de beber ou morre logo.

– Padre, o senhor jura que não está me enganando não?

– Juro por essa cruz que está aqui no meu peito. Não estou enganando. E tem coisa pior. Quem morre de artrite, porque não parou de beber, não vai para o céu, nem mesmo para o purgatório. Vai direto para o fogo do inferno.

– Coitadinho do argentino, padre.

– Dele, quem?

– Do Papa, padre. O jornal está dizendo aqui que o Papa Francisco está com artrite.

O padre se levantou, trocou de lugar, e foi lá pra frente.

(Historinha de Sebastião Nery, adaptada para a atualidade por este escriba).

A imagem do Brasil

No fundo do poço. O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês, Dom Philips, no Vale do Javari, Amazonas, devasta ainda mais a imagem do Brasil na paisagem internacional. Soma-se ao rol de coisas ruins que as Nações enxergam em nossas plagas, a partir do desmatamento da floresta, do garimpo ilegal, da exploração de minérios, enfim, do descaso ao qual foi relegada a região amazônica pelo governo.

Infere-se que…

O presidente Bolsonaro se depara com mais um obstáculo a ultrapassar em sua corrida para voltar a sentar na cadeira presidencial. A morte de Bruno e Dom abre mais espaço na mídia nacional (e internacional), com sobras de tiros em direção a um governo que acolhe bárbaros que devassam a região. Sob uma política complacente. Ou seja, esse episódio afasta muitos eleitores que poderiam votar em Bolsonaro. Recuam ante a escalada de violência e brutalidade que assolam o Brasil no atual ciclo político.

A banalização do mal

O mal está banalizado aqui e alhures na esteira das práticas que o alimentam. A famosa tese de Hannah Arendt sobre o tema, com foco no assassinato em massa, comandado pelo coronel nazista Adolf Eichmann ao jogar milhões de judeus nas câmaras de gás dos campos de concentração. O Álbum de Auschwitz mostra a chegada dos trens, o processo de seleção e o lugar para onde eram levados os pertences dos assassinados – conhecido como Canadá… “mulheres, crianças, idosos não sabiam o destino que os esperava; nós, porém, sabemos o que ia acontecer em minutos ou horas: seu destino eram as câmaras de gás… Entre a primavera e o início do verão de 1944, Auschwitz chegou ao limite de sua capacidade de extermínio e o superou no mais horrível e frenético período de assassinatos que o campo viveria”. O criminoso cumpria ordens. Sem piedade. Um burocrata dando vazão ao sistema. A banalização do mal.

A natureza do mal

O mal tem origens. Nasce, por exemplo, da inação de governantes que fecham os olhos para práticas imorais, perversas, estúpidas, calamitosas. A semente do mal viceja na seara da ignorância. Massas sem acesso à educação ensejam a multiplicação de grupos, máfias, milícias. Em suma, a morte do indigenista e do jornalista inglês no Amazonas se ancora no desmando de uma administração que deixa a floresta ser devastada por “novos povoadores”, os cultores do uso da bala, que emergem como “bandeirantes bárbaros” das reservas indígenas. Sob o olhar de um governo que considera a destruição do espaço amazônico um impulso ao desenvolvimento do país.

Os três macaquinhos

Parcela do eleitorado que votará em Lula deve fazer o gesto dos três macaquinhos – que fecham os olhos, os ouvidos e a boca. Não veem, não ouvem e não sentem o clima que envolverá sua decisão nas urnas. Votarão em Lula para evitar Bolsonaro. Hipótese que também vale para o mandatário-mor. A opção de votar nele é, para muitos, uma tentativa de deixar longe do poder o lulopetismo. Parcela ponderável do eleitorado tenta enxergar luz no fim do túnel. Quem vai segurar o farol?

Programa petista

Volto a lembrar. O programa de Luiz Inácio, vazado pela mídia na semana passada, mostra que o ex-metalúrgico não esquece temas que causam pesadelo junto a segmentos importantes: a revogação da reforma trabalhista, o aborto, a regulação da mídia (com cheiro de censura), a tributação dos endinheirados, entre outros itens. E, ainda, ele concorda com o uso da caneta para definir os rumos da Petrobras e, assim, abrir o ciclo de maior intervenção do Estado na economia.

Lula no meio? Uma ficção

O comandante petista tem se posicionado no meio do arco ideológico. É sua expressão junto aos setores produtivos. Mas, vez ou outra, o velho Lula reaparece em discursos inflamados. Geraldo Alckmin tem sido usado como colchão amortecedor junto aos setores produtivos. Um drible que poderá quebrar as pernas do jogador. O tempo provará essa hipótese. Esperemos.

Em suma

Jair tem apoio de 25% a 30% dos eleitores que consideram seu governo bom ou ótimo. Mesmo não sendo popular, Bolsonaro tem razoável apoio entre os padrões da América Latina. Com esse índice, ainda está na disputa. Já a rejeição a Lula tende a subir, o que tornaria a eleição competitiva. Se Bolsonaro conseguir recuperar popularidade, a eleição será apertada.

Simone Tebet

Toda a expectativa do grupo nem-nem se volta para Simone Tebet. Julho é seu deadline, o fim de linha. Passou o mês sem sinais de subida, será improvável permanecer no páreo. Este analista acha que haverá um pouco de pista para ela decolar.

Doria, adeus

João Doria diz adeus à vida pública. “A ser verdade”, este analista registra algumas conclusões: 1. João fez bem à democracia brasileira; 2. O ex-governador paulista deixa marca forte no Estado mais poderoso da Federação; 3. Seu governo não ganhou o reconhecimento que merece; 4. Foi impossível ao ex-governador diminuir índices de rejeição; 5. A rejeição abriga componentes relacionados à índole de João (elite, autossuficiência, representação da cara do poderio paulista (elemento muito rejeitado pelo eleitor), imposição, pouco propenso ao diálogo, entre outros pontos.

Verdade

Este analista escreveu acima – “a ser verdade”. A observação é para lembrar que há sempre um caminho de volta. Se as circunstâncias, no dia de amanhã, abrirem espaço para sua volta, quem garante que ele não montará no cavalo selado diante de sua porta? Minha querida e saudosa mãe sempre me dizia: “meu filho, nunca diga – desta água não beberei”. Acrescento: aprendi com o filósofo Heráclito, de Éfeso, que a travessia do rio duas vezes no mesmo lugar por uma pessoa não se repete, pois as águas e a própria pessoa estarão modificadas; aprendi, também, que a pessoa pode atravessar o rio noutro momento, sob novas circunstâncias. O rio e a pessoa serão outros.

A menor distância

A propósito, a menor distância entre dois pontos, na geometria euclidiana, é uma reta. Tenho dito e repetido este bordão: Na política, porém, a menor distância entre dois pontos pode ser uma curva. Lembro: Fernando Henrique perdeu a eleição municipal para Jânio Quadros e, a seguir, ganhou a presidência da República.

Queda da bolsa

O mercado financeiro enfrenta momentos nervosos no mundo e por aqui. Bolsas fechando em baixa. O pessimismo é reflexo de preocupações generalizadas com a inflação, que está acelerando sobretudo nos EUA.

Recessão mundial

Anotem a inferência. O mundo deverá entrar, um pouco mais adiante, em um processo de refluxo nas economias. A partir da recessão que deve ocorrer nos Estados Unidos, a maior potência econômica. Senhoras e senhores investidores: refaçam seus prumos…e rumos. Paisagem que desenho a partir de minhas leituras. Um dos movimentos para a desvalorização do real é o estímulo à fuga de investidores do Brasil com a iminente nova elevação dos juros americanos. Os investidores retiram seus recursos da renda variável…

Ucrânia

Está perdendo a guerra. Rússia vitoriosa aumentará as tensões na Europa. A OTAN se dispõe a abrigar novos países. Putin irado. Sinais de paz se apagam.

Os Gomes

Quem deverá voltar à iniciativa privada, no próximo ano, é o presidenciável Ciro Gomes. Um perfil qualificado. Um grande conhecedor do nosso país. A propósito: os irmãos Ferreira Gomes deram um passo adiante no sistema educacional de Sobral, Ceará. Depoimento de uma figura mais que prestigiada….o homem mais rico do Brasil: Jorge Paulo Lemann.

A propósito do Ceará…

Junho é um mês histórico na minha trajetória. Nesse momento em que se fala da indicação de Tasso Jereissati para compor a chapa de Simone Tebet (MDB-MS) talvez seja interessante lembrar os tempos em que Tasso abriu sua jornada política.

O início

Há 36 anos, em 24 de junho de 1986, indicado por Fernando César Mesquita, assessor de imprensa do presidente José Sarney, cheguei à Fortaleza, Ceará, para ajudar na campanha de Tasso Jereissati ao governo do Estado. Do hotel Esplanada, onde me hospedei, fui a uma noite de São João. Tasso Jereissati, convidado por Barros Pinho, deputado estadual do MDB, dirige-se a um clube de bairro popular de Fortaleza. Primeira experiência no meio do povo. Candidato a governador do Ceará, sua missão: presidir um júri que vai julgar fantasias juninas de adolescentes.

Peixe fora d’água…

Estava ao seu lado como conselheiro e profissional de campanhas políticas (hoje chamados de marqueteiros). Tasso circula de mesa em mesa, apresentando-se. Encabulado. A seguir, preside o evento. Não sabe o que fazer. Ou dizer. Era muito conhecido no bairro de classe média alta, Aldeota, mas sem acesso às massas. Na época, tinha 2% de intenção de voto.

“Tô fora”…

Depois do evento, angustiado, ele, Sérgio Machado, na época braço direito, e este escriba, dirigem-se a um restaurante na praia para degustar uma lagosta. Logo no início da conversa, Tasso desabafa : “desisto, amigos; se política for isso, assistir a batizado, casamento, velório, festa junina, não contem comigo. Tô fora”. Transtornado e disposto a abandonar a candidatura. No Hotel, dia seguinte, em uma pequena máquina de datilografia, Lettera 22, esbocei o planejamento de sua campanha.

O moderno contra o arcaico

O novo contra o velho. O moderno contra o arcaico. O lema que orientou a campanha. Fui à MPM, em Brasília, para que esta agência criasse o visual. Fizemos a apresentação. Mas a Propeg, de Fernando Barros, Salvador/Bahia, sob o mesmo lema, acabou sendo a agência escolhida. Fui coordenar a campanha de Freitas Neto (PFL-PI). Acompanhando o que ocorria no CE. Resumo: Tasso deu um banho nos três coronéis que comandavam a política cearense, Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra. Ganhou de Adauto Bezerra, obtendo quase 1,5 milhão de votos. Fez um governo mudancista. Hoje, senador do PSDB, é um quadro respeitado em todos os segmentos da política.

Fecho com o Ceará.

Com “SEU LUNGA”, o famoso casca dura de Juazeiro do Norte, vendedor de sucatas, pai de 13 filhos, quase analfabeto, que ganhou fama pela língua solta e afiada.

No copo?

Seu Lunga descansava na rede. Manda o sobrinho trazer-lhe um pouco de leite. O garoto pergunta:

– No copo?

Ele responde:

– Não. Bota no chão e vem empurrando com o rodo, imbecil.

A promissória

O funcionário do banco veio avisar:

– Seu Lunga, a promissória venceu.

– Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória.

Tá doente?

Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:

– Tá doente?

– Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto?

 

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