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18 de março de 2024 12:55 PM

Exposição

Jardim Botânico do Rio expõe imagens da missão belga de 1922 ao Brasil

Foto: divulgação - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Exposição será inaugurada nesta segunda-feira (27)
Alana Gandra
Em 26 de junho de 2022

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) inaugura amanhã (27), às 11h, a exposição O Jardim Botânico e a Expedição Belga no Brasil 1922-23, que revela ao público reproduções de parte significativa do acervo histórico de fotografias do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio e outros itens da expedição liderada pelo botânico Jean Massart,. Também haverá exposição de imagens de expedições atuais que mostram a continuidade das pesquisas de campo do equipamento do Ministério do Meio Ambiente. A mostra ficará aberta até 27 de setembro, no Galpão das Artes do Jardim Botânico do Rio, das 9h às 17h, diariamente. A entrada é gratuita.

As imagens expostas são reproduções de fotografias produzidas pelos biólogos belgas que estiveram no Brasil, há 100 anos, com destino à Amazônia. Junto com os relatórios da viagem, que se encontram entre as obras raras da Biblioteca do JBRJ, as imagens constituem um valioso patrimônio científico.

A curadora da mostra, Alda Heizer, historiadora e pesquisadora afiliada do JBRJ, disse que o maior legado da missão belga foi o conjunto de informações textuais e imagéticas sobre a flora e a fauna do Brasil da década de 1920. “A interação com os pesquisadores do JBRJ foi importante sob vários aspectos, especialmente quanto ao interesse científico da expedição”, disse Alda, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo ela, os relatórios e as imagens feitos pelos integrantes da missão podem contribuir para o aprofundamento do conhecimento dos pesquisadores atuais, brasileiros ou não, sobre o nosso país, em especial, sobre a Amazônia.

“Os relatórios apresentam descrições de habitantes, lugares, paisagens e o dia a dia dos locais por onde passaram. O conteúdo pode interessar a pesquisadores de outras áreas do conhecimento. As fotografias e as legendas são de autoria dos biólogos, o que as torna mais interessantes do ponto de vista etnográfico, histórico e botânico. A Amazônia obteve especial interesse da missão e se tornou, inclusive, tese de doutorado de um dos biólogos, o jovem belga Raymond Bouillenne”, informou Alda Heizer.

Com a exposição, o Jardim Botânico pretende divulgar para o público a importância de seu acervo de imagens e o fato de a instituição, desde a primeira metade do século 20, organizar e realizar expedições científicas a diferentes locais do país.

Grandes temas

A mostra está organizada em seis grandes temas: a organização da missão belga e o papel do Jardim Botânico em sua consecução; as viagens científicas que fizeram no estado do Rio de Janeiro antes de percorrerem outras unidades federativas até chegarem à Amazônia; a importância científica da expedição; o acervo fotográfico científico proveniente da expedição, com a apresentação de alguns originais em vidro, e a produção do conhecimento científico em campo até os dias de hoje.

Historicamente, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por meio de seus pesquisadores, tem como uma de suas funções desenvolver trabalhos de campo e manter intercâmbio com instituições brasileiras e estrangeiras.

Considerada uma contribuição ao estudo da biogeografia do Brasil pelos pesquisadores e professores europeus que analisaram os resultados da viagem, a expedição belga apontou especialmente a relevância das pesquisas sobre a Amazônia, região pouco estudada até então.

A missão foi considerada por seus contemporâneos como o prolongamento de um vasto movimento de interesse botânico, por parte da Bélgica, que estava presente no início do século 19, com as viagens ao Brasil realizadas pelo também belga Van Houte, em 1834.

Especialistas

Os biólogos belgas em trabalho de campo, 1922
Os biólogos belgas em trabalho de campo, 1922 – Divulgação/Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Em meados de 1922, partiu de Anvers, na Bélgica, rumo ao Brasil, um grupo de jovens biólogos, especialistas em botânica e zoologia, alguns deles ligados à Universidade de Bruxelas e, outros, ao Jardim Botânico Léo Errera, da mesma universidade. O grupo era integrado por Jean Massart, professor e diretor do Instituto Botânico Léo Errera da Universidade de Bruxelas e coordenador da viagem; Raymond Bouillenne, botânico da Universidade de Liége; os botânicos Paul Ledoux e Albert Navez e o zoólogo Paul Brien, da Universidade de Bruxelas.

Idealizada pelo médico e biólogo Jean Massart, reconhecido como um pioneiro na conservação da natureza na Bélgica, a expedição se estendeu por diferentes locais do Brasil e teve como objetivos o estudo da fauna e da flora e o recolhimento de objetos para demonstração nos cursos universitários. As viagens da missão belga aconteceram em várias etapas: Rio de Janeiro; São Paulo; Minas Gerais e Bahia; Pernambuco, Ceará, Pará e Amazonas.

Em conferência na Sociedade Real das Ciências Médicas e Naturais de Bruxelas, Massart resumiu a descrição de sua viagem ao Brasil, ressaltando a acolhida recebida das autoridades governamentais e dos cientistas de diferentes locais e instituições.

“Nós desembarcamos no Rio, em 16 de agosto de 1922, depois de três escalas de alguns dias em Recife e na Bahia (…) e, seguidamente, recebemos as boas vindas das autoridades administrativas locais”.

Na cidade do Rio de Janeiro, Jean Massart e os outros integrantes da missão se fixaram no Jardim Botânico durante cinco semanas: “Um grande laboratório (…) foi colocado à nossa disposição, o que nos permitiu aproveitar as maravilhosas coleções do Jardim”.

Viagens

O vagão-leito que serviu de hotel entre Bahia, Aramiru, Itumirim e Juazeiro | Foto de R. Bouillenne, 1922
O vagão-leito que serviu de hotel entre Bahia, Aramiru, Itumirim e Juazeiro | Foto de R. Bouillenne, 1922 – Divulgação/Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Planejadas e dirigidas pelos cientistas do Jardim Botânico – Antonio Pacheco Leão (diretor da instituição) e João Geraldo Kuhlmann, entre outros, as viagens da missão belga foram realizadas, inicialmente, com duração de um dia a Jacarepaguá, à Barra da Tijuca e a Piratininga; às ilhas da Baía da Guanabara e à floresta da Tijuca. Os naturalistas foram também a Xerém, com Adolpho Lutz, do Instituto de Manguinhos; e a Deodoro, com Arséne Puttemans, botânico belga ligado ao Ministério da Agricultura do Brasil. Todas essas viagens foram registradas pelos biólogos belgas, destacou a curadora Alda Heizer.

A direção de design da exposição é de Mary Paz Guillen. Trechos do relatório belga foram utilizados, em conjunto com os textos que foram produzidos por especialistas do JBRJ: História (Alda Heizer), Etnobotânica (Viviane Stern da Fonseca-Kruel); Itatiaia (Claudia Barros), Amazônia (Rafaela Campostrini Forzza) e fotografia científica (Raul Ribeiro).

Durante o mês de agosto, o JBRJ promoverá rodas de conversa com especialistas sobre fotografia e expedições científicas, além de oficinas com a equipe de Educação Ambiental.

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