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26 de abril de 2024 11:23 AM

Saúde

ONG Zoé consolida sua atuação na Amazônia com projeto de saúde que atende populações ribeirinhas do Tapajós

Foto: @sm2
Barco hospital Abaré, da Ufopa, universidade parceira da ONG Zoé
Lídia de Santana
Em 19 de março de 2022

Médicos e profissionais de saúde da ONG paulistana Zoé realizaram neste mês duas expedições no Pará. Parte da equipe de 25 pessoas, entre médicos, residentes, acadêmicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem etc.,  compôs a 5ª expedição e rumou para o Hospital Municipal de Belterra (HMB) para fazer consultas, cirurgias e exames de imagem (endoscopias, colonoscopias e ultrassom) no período de 5 a 12. Os integrantes da 6ª expedição foram para o barco hospital Abaré, que navega pelo Tapajós para atender comunidades ribeirinhas, cujo acesso só é possível por meio fluvial. No Abaré foram feitas, entre os dias 6 e 8, consultas de clínica geral e dermatologia e exames de ultrassonografia.

Qual o resultado das ações? Há diferentes maneiras de olhar e fazer um balanço das expedições. Uma delas são os números:  em apenas uma semana, 186 exames de imagem (endoscopias, colonoscopias e ultrassonografias); 57 cirurgias de hérnia, hemorroidas, fistulas, cistos; 140 consultas médicas (clínica geral e dermatologia), isso sem contar a triagem de pacientes, entre outros atendimentos. No entanto, nada traduz melhor a importância do trabalho da ONG Zoé e de outras instituições não governamentais que atuam na área de saúde na Amazônia, como as histórias contadas pelas pessoas que foram atendidas.

Salvo de um câncer colorretal

O agricultor Francisco Pereira dos Santos, 63 anos, da comunidade de Santo Antônio, veio ao HMB para realizar uma colonoscopia e lembra emocionado quando há cinco anos realizou pela primeira vez o exame com o médico Marcelo Averbach, um dos fundadores da Zoé, e foi diagnosticado com um câncer colorretal. Era o ano de 2017 e Averbach atuava na região desde 2014, antes da criação da Zoé, em um estudo que rastreou câncer colorretal em Belterra e arredores, em pessoas entre 50 e 70 anos.

“Eu não queria ir. Fui por insistência da agente de saúde da comunidade, mas o exame salvou minha vida. Eu tinha um câncer de intestino e fui encaminhado para fazer cirurgia no Hospital Regional de Santarém. Hoje fiz novamente a colonoscopia e não tenho mais câncer”, celebra Francisco. Como explica Averbach, o agricultor foi uma das pessoas  que fez parte de seu estudo de rastreamento de câncer colorretal, selecionado na pré-triagem da 5ª expedição para reavaliação.

Emoções não planejadas

Assim como os pacientes atendidos nas expedições, os profissionais da ONG também se emocionaram em diversas situações. Muitas das pessoas atendidas estavam anos na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) que, apesar de constituir um modelo de referência não consegue dar vazão à demanda de regiões como as atendidas pela Zoé, entre outros motivos, pela falta de médicos.

O médico endoscopista e presidente da Zoé, Marco Aurélio D’Assunção estava em atendimento no HMB quando foi questionado por uma das enfermeiras do hospital se poderia avaliar uma emergência. “Era um homem de 43 anos que havia desmaiado em casa. Chegou ao hospital muito pálido, com pressão arterial baixa e informou que as fezes estavam com coloração escura”, lembrou o médico endoscopista. A primeira medida foi estabilizar o paciente. Depois, a endoscopia mostrou um sangramento importante que foi controlado. “Como temos em nossa equipe endoscopistas e anestesistas muito experientes, foi possível tratar o paciente para que ele pudesse ser transferido com segurança para o Hospital Regional de Santarém. Sem isso, ele poderia vir a óbito no caminho. Nossa presença com os recursos que levamos naquele momento salvou a vida dele e deixou a equipe feliz e emocionada”, afirmou.

Coordenador das cirurgias realizadas no HMB durante a expedição, o médico voluntário da Zoé Pedro Popoutchi destacou o caso de um paciente que veio ao hospital para fazer uma endoscopia digestiva alta. “A equipe da endoscopia observou que ele tinha uma lesão no dedo do pé, causada por uma raia, fato comum na região. O paciente relatou que estava há 20 dias com o dedo machucado e demonstrou não ter consciência da gravidade da situação”, informou Popoutchi.

Examinado pela equipe da Zoé, a conclusão foi que a lesão infectada já estava obstruindo uma artéria e impedindo a circulação sanguínea no pé. O paciente passou por uma cirurgia para remover a infecção e reestabelecer a circulação. “Se ele não tivesse vindo para fazer a endoscopia, o quadro teria se agravado, com risco de amputação. Além disso, fizemos aqui em Belterra, um procedimento que ele só poderia fazer no hospital em Santarém”, disse.

No Abaré, Dona Julia e outras histórias

O Abaré, por sua vez, atracou nas comunidades de Maripá, Pedra Branca e Vila Amorim. Antes disso, agentes de saúde locais, em parceria com a Zoé, cumpriram a importante missão de informar às comunidades sobre as datas e os atendimentos. Vieram ribeirinhos e indígenas dessas comunidades e dos arredores. No entanto, Dona Julia Alves, 79 anos, cadeirante, não tinha como fazer o breve trajeto de barco entre sua casa e o local onde estava o Abaré, em Maripá, mas não ficou sem atendimento. O médico cirurgião geral e vascular Fábio Tozzi, um dos fundadores da Zoé, acompanhado do agente comunitário de saúde, foi até a casa de Dona Julia. Depois do exame clínico, ele considerou ser importante realizar um ultrassom. Para isso, a equipe da Zoé fez novo deslocamento à casa da paciente, levando um ultrassom portátil para o exame.

Também no Abaré, o médico radiologista intervencionista Márcio Meira, voluntário da Zoé, realizou exames de ultrassom, entre outros pacientes, em mulheres grávidas, como Elizane Cardoso, 31, em sua quarta gestação. “É a primeira vez que faço este exame, fiquei sabendo que é um menino e está tudo bem”, disse. Infelizmente, o recurso que deu segurança à Elizane não estava presente na vida de outra família com a qual Márcio teve contato na expedição. “Conheci aqui um bebê de 9 meses, que é criado pelo pai e a tia porque a mãe morreu no parto. Foram oito partos naturais sem qualquer problema, feitos em casa, mas no 9º filho, certamente um pré-natal, exames como o ultrassom e a presença de um médico poderiam ter salvado a vida da mãe”, lamentou Márcio.

Sobre a Zoé

Nascida em São Paulo (SP), no final de 2019,  a Zoé tem entre seus fundadores, médicos – como, Fábio Atuí (cirurgião do aparelho digestivo), Fábio Tozzi (cirurgião geral e vascular), Marcelo Averbach (cirurgião e colonoscopista), Marco Aurélio D’Assunção (endoscopista), Paulo Chapchap (cirurgião infantil) – e não médicos, como o administrador de empresas Plínio Averbach.

A decisão de fundar a Zoé foi motivada por experiências anteriores dos médicos na Amazônia e o desejo de dar continuidade ao trabalho de contribuir para melhorar o atendimento à saúde dessas populações.

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